sábado, 4 de agosto de 2012

Teste: Ford usa tática de guerrilha com o novo EcoSport


Teste: Ford usa tática de guerrilha com o novo EcoSport
Depois de seis meses de “teasers”, fabricante norte-americana apresenta a nova geração do utilitário com bom custo/benefício

por Rodrigo Machado
Auto Press


O terreno da Ford no Brasil foi invadido. Depois de nove anos atuando sozinha no segmento de utilitários esportivos compactos, o EcoSport passou a dividir mercado com o jipinho Renault Duster no fim do ano passado. A reação da montadora americana foi criar “teasers” – palavra que significa provocação em inglês e que também batiza um recurso publicitário de criar expectativa em relação a um lançamento. A ideia era impedir a migração do público do seu SUV para o rival.

A estratégia deu algum resultado, mas não foi suficiente. A Ford perdeu 25% das vendas e também a liderança no nicho para o Duster – neste ano a média mensal foi de 3 mil unidades do SUV da Renault contra 2.400 do EcoSport. Agora, depois de mostrar modelos em argila, protótipos e versões de pré-serie, a Ford apresentou oficialmente a segunda geração do EcoSport. Ainda assim, o modelo só chega às concessíonárias em setembro. Ele foi totalmente modificado e virá com uma postura mais globalizada – será produzido na China, na Índia e na Tailândia e vendido mundo afora. E traz vários elementos do New Fiesta, com quem compartilha estilo, equipamentos, plataforma e até um dos motores.



A longa campanha de pré-apresentação tornou o veículo bem familiar em vários aspectos. O design já é bem conhecido desde janeiro e confirmou o que as fotos permitem deduzir – pessoalmente, um carro sempre fica diferente. A frente é marcada pela grande grade poligonal, que dá um aspecto bem robusto ao modelo. Os conjuntos óticos são afilados e entalhados e se conectam por uma finíssima grade, com o oval azul da marca encravado ao centro. De perfil, o para-brisa bem anguloso dá alguma esportividade ao jipinho. A linha de cintura alta e ascendente, os vidros estreitos e os vincos bem marcados na carroceria reforçam bastante a robustez do visual. Atrás, as lanternas são horizontais e têm formato parecido com o do conjunto ótico dianteiro. Bem ao centro da tampa traseira foi mantido o estepe pendurado. Apesar de ser uma solução pouco prática e “fora de moda”, a fabricante garante que o recurso foi aprovado em clínicas com potenciais clientes. A saia em torno do novo EcoSport recebe uma proteção em plástico preto, que gera a sensação de que o utilitário é mais alto.

A evolução do EcoSport chegou também à parte mecânica. As dimensões praticamente se mantiveram – ganhou apenas 3 cm na largura e no entre-eixos. A suspensão é nova, semelhante à do New Fiesta, mas mantém a mesma arquitetura básica: McPherson na frente e eixo de torção atrás. Nas versões de entrada, o motor 1.6 mudou. Sai de linha o antigo Rocam e entra o novo Sigma, com bloco e cabeçote de alumínio. Ele rende 115 cv a 5.500 rpm e 15,9 kgfm de torque a 4.750 giros. O 2.0 Duratec mantém os 147 cv a 6.250 rpm e os 19,7 kgfm a 6.250 rpm da antiga versão.



O EcoSport será oferecido em quatro versões diferentes. A de entrada é a 1.6 S, que vai custar R$ 53.490 – R$ 2.870 a mais que a básica anterior. Além dos obrigatórios airbag duplo e ABS, ela traz de ar-condicionado, direção e trio elétrico e sistema de entretenimento com acionamento por voz. A seguinte é a SE. Por R$ 56.490, ela adiciona vidros traseiros elétricos e faróis de neblina. A intermediária é a Freestyle, que a Ford estima que responderá por 50% das vendas. Ela recebe a mais rodas de liga leve de 16 polegadas, computador de bordo, sensor de estacionamento, controle de estabilidade e de tração e assistente de partida em aclive. A Freestyle é oferecida com motor 1.6 a R$ 59.990 ou 2.0 a R$ 62.490. A topo é a Titanium, que custa R$ 70.190 e tem rodas e detalhes exclusivos na carroceria, bancos de couro, airbags laterais e de cortina, ar digital e keyless, entre outros. Duas outras versões ainda serão lançadas. Em outubro chegam as configurações com câmbio automático e, seguida, uma com tração 4X4. A chegada delas vai depender da Ford achar uma brecha na produção, pois a demanda pelas versões já noticiadas tem se mostrado um bocado forte. Em três dias de pré-venda, as 2.500 unidades disponibilizadas se esgotaram.

Ponto a ponto

Desempenho – 
O motor 1.6 Sigma até dá agilidade ao EcoSport, mas apenas acima das 3 mil rotações. Abaixo disso, ele sente o peso do carro e falta força em retomadas. Aí se fazem necessárias reduções para manter o motor “cheio”. Pelo menos os engates são precisos e macios. Nota 6.
Estabilidade –  É um dos grandes destaques da nova geração do utilitário. Nas curvas, quando se força mais o carro, o conjunto se mantém equilibrado. As rolagens de carroceria são quase imperceptíveis e o SUV fica sempre na mão do motorista. Em retas, o comportamento é semelhante, com bastante neutralidade. Nota 9.
Interatividade – Os comandos do EcoSport são semelhantes aos do New Fiesta. Isso significa que há uma profusão de botões, principalmente no console central. No resto, o utilitário vai bem. O banco do motorista e volante têm ajuste em altura e profundidade. A direção elétrica é leve nas manobras. Em altas velocidades, o sistema aumenta o peso, o que melhora a precisão nas manobras. A visibilidade dianteira é prejudicada pelas colunas grossas. Atrás, o vidro pequeno atrapalha. Nota 7.
Consumo – O novo EcoSport marcou média de 10,6 km/l com gasolina em trajeto rodoviário. A Ford indica um consumo de gasolina e etanol de 7 e 10,2 km/l na cidade e 8,4 e 12,2 km/l na estrada, na ordem. Nota 7.
Conforto – A suspensão do utilitário é rígida. E isso acaba se refletindo no conforto ao rodar. Basta passar em algumas imperfeições no asfalto que alguns solavancos são sentidos na cabine. Ao menos, o espaço interno se manteve bom na troca de geração. Além dos dois da frente, dois adultos e uma criança viajam com folgas no banco traseiro. O isolamento acústico é apenas razoável. Nota 7.



Tecnologia – O novo EcoSport divide a plataforma do New Fiesta, mas sofreu pequenas alterações. A engenharia da Ford usou partes de aço reforçado de baixo peso em diversos pontos da carroceria para reduzir o peso total do carro – que ainda assim ficou ligeiramente alto para um modelo compacto. A lista de equipamentos de série é boa, com direito a sistema de entretenimento de série. E já a partir da intermediária Freestyle, há controles de estabilidade e de tração. Agora, airbags laterais e de cortina só são de série na versão de topo. Nota 8.
Habitalidade – A versatilidade é um dos pontos fortes do EcoSport. Há bastante espaço entre os bancos para guardar tralhas de uso rápido. Nas portas dianteiras, cabem garrafas de 2 litros e 600 ml lado a lado. O porta-malas tem bom acesso, já que a tampa abre lateralmente e arrasta o incômodo estepe externo junto – pelo menos, há um braço hidráulico para reduzir o esforço de mover o conjunto. São 362 litros, 20 a mais que o anterior, com uma boa área útil. Nota 8.
Acabamento – As unidades testadas eram pré-série. Mas isso justifica apenas os problemas de encaixe e de fechamento das peças que o modelo testado apresentou. De qualquer modo, o acabamento decepciona. O desenho até é semelhante ao do New Fiesta, mas sem o requinte do hatch - o material emborrachado no painel, por exemplo, foi embora. Há muito plástico rígido de aspecto pouco requintado e os revestimentos não inspiram muita confiança. Passa a mesma impressão de falta de qualidade da geração anterior. Nota 5.
Design – As linhas do novo EcoSport são bem insinuantes e agressivas, com grade pronunciada e faróis afilados. O desenho transmite sofisticação e permite ao carro fazer boa figura. Em alguns casos, até vira refém do estilo, como no caso do vidro traseiro pequeno com o estepe pendurado na tampa. Mas o resultado final é bastante positivo. Nota 9.
Custo/benefício – O EcoSport mudou e ficou ligeiramente mais caro – na verdade, recuperou o preço que tinha antes de sentir a pressão da concorrência. Ficou com preço semelhante ao rival Renault Duster e até do SUV médio Hyundai Tucson – que compensa a falta de atualidade no preço. Desde a versão básica, a lista de equipamentos traz necessários ar-condicionado, direção e trio elétrico, sistema de entretenimento e até faróis de led. Airbag duplo e ABS são obrigatórios. Nas mais equipadas, chama a atenção a opção por seis airbags e os controles de estabilidade e tração. Nota 7.
Total –  O novo Ford EcoSport Freestyle 1.6 somou 73 pontos em 100 possíveis.

Primeiras impressões

Herança genética

Mariporã/São Paulo - 
Além de tamanho e categoria, não há como identificar a antiga e a nova gerações do EcoSport. O visual do renovado utilitário da Ford é marcante e tem muita agressividade. Por dentro, o desenho até impressiona pela semelhança com o New Fiesta. Quadro de instrumentos – de boa visualização – e controles do rádio são praticamente iguais. Mas basta um olhar mais criterioso para encontrar uma identidade conceitual com o antigo EcoSport: o acabamento sofrível. Nem o fato de as unidades testadas serem de pré-série justifica a qualidade dos materais aplicados. São pobres, ruins ao toque e pouco agradáveis aos olhos. Já os encaixes mal-feitos podem até ficar na conta do início de produção.



Ao menos, a cabine é significamente espaçosa para um compacto, principalmente na traseira. Dois adultos e uma criança vão ali com boa dose de conforto. O banco traseiro é reclinável, inclusive. Em movimento, o motor 1.6 Sigma até que se esforça, mas é apenas suficiente para mover os 1.243 kg do EcoSport. Em superfícies lisas, o desempenho é satisfatório, principalmente acima das 3.500 rotações. Em qualquer ladeira, no entanto, as reduções são necessárias - até porque a segunda marcha tem relação muito longa. O câmbio é bom de manipular, com engates precisos e macios.

Nos testes, o novo EcoSport lembrou o seu antecessor em outra característica marcante: a estabilidade. O comportamento nas curvas é ainda melhor, com muita neutralidade e poucas rolagens de carroceria. Mérito da suspensão, com calibragem dura, e para a boa rigidez torcional do chassi. Isso acaba cobrando a conta no conforto ao rodar. Os buracos são passados para o interior sem grandes cerimônias, com tudo lá dentro chacoalhando. No final, a Ford se preocupou mais com o que faz diferença na hora de vender. O EcoSport ficou mais bonito e moderno e ganhou uma lista de equipamentos recheada de itens interessantes. Os problemas de acabamento nunca impediram a antiga geração de vender. A maioria dos consumidores se satisfazem com as linhas externas atraentes e com um boa película escura.



Ficha técnica

Ford EcoSport

Motor 1.6: 
A gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.596 cm³, com quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro e comando simples no cabeçote. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial.
Motor 2.0: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.999 cm³, quatro cilindros em linha, duplo comando no cabeçote, quatro válvulas por cilindro e comando variável de válvulas na admissão. Injeção eletrônica multiponto sequencial e acelerador eletrônico.
Transmissão – Câmbio manual de cinco marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira, com controle eletrônico a partir da versão Freestyle.
Potência máxima – Motor1.6: 110 cv a com gasolina a 6.500 rpm e 115 cv com etanol a 5.500 rpm. Motor 2.0: 141 cv e 147 cv com gasolina e etanol a 6.250 rpm.
Torque máximo – Motor 1.6: 15,6 kgfm com gasolina a 4.250 rpm e 15,9 kgfm com etanol a 4.750 rpm. Motor 2.0: 18,9 kgfm e 19,7 kgfm com gasolina e etanol a 4.250 rpm.
Diâmetro e curso – Motor 1.6: 79,0 mm X 81,4 mm com taxa de compressão de 11,0:1. Motor 2.0: 87,5 mm X 83,1 mm com taxa de compressão de 10,8:1.
Aceleração 0-100 km/h – Motor 1.6: 12,4 e 12,5 segundos com gasolina e etanol. Motor 2.0: 10,8 e 10,5 segundos com gasolina e etanol.
Velocidade máxima – 180 km/h limitada eletronicamente.
Suspensão – Dianteira independente do tipo McPherson, com braços inferiores, barra estabilizadora, amortecedores hidráulicos pressurizados e molas com compensação de carga lateral. Traseira semi-independente com eixo de torção, amortecedores hidráulicos pressurizados com molas helicoidais. Controle eletrônico de estabilidade a partir da versão Freestyle.
Pneus – S e SE: 205/65 R15. FreeStyle e Titanium: 205/60 R16.
Freios: Discos ventilados na frente, tambores atrás e ABS de série.
Carroceria: Utilitário esportivo em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,23 metros de comprimento, 1,76 m de largura, 1,67 m de altura e 2,52 m de distância entre-eixos. Airbags frontais de série. Airbags laterais e de cortina na versão Titanium.
Peso: 1.243 kg.
Capacidade do porta-malas: 362 litros.
Tanque de combustível: 52 litros.
Produção: Camaçari, Bahia.
Itens de série: Versão S: Ar-condicionado, direção elétrica, vidros dianteiros, travas e retrovisores elétricos, rádio/CD/MP3/Aux com sistema SYNC e faróis com led.Preço: R$ 53.490.
Versão SE: Adiciona vidros traseiros elétricos, faróis de neblina e rodas com desenho diferente.Preço: R$ 56.490.
Versão Freesyle: Adiciona rodas de liga leve de 16 polegadas, computador de bordo, sensor de estacionamento traseiro, controles de estabilidade e de tração e assistente de partida em ladeiras. Preços: R$ 59.990 com motor 1.6 e R$ 62.490 com motor 2.0.
Versão Titanium: Airbags laterais e de cortina, bancos de couro, rodas exclusivas, ar-condicionado digital, keyless, sensores de chuva e luminosidade e retrovisor interno eletrocrômico. Preço: R$ 70.190.

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